sábado, 4 de setembro de 2010

E eu não era eu. Eu era apenas um velho de vestes pobres, um pobre diabo que sequer tinha criatividade para se esconder. E viu a pequena criança ser apanhada sem nada poder fazer. O que lhe restou foi apenas se manter em silêncio para que pudesse continuar a salvo. Mas lhe faltou astúcia, no momento em que tentou conferir se estava livre foi pego de surpresa. Não reagiu. Ora, como se esperar que ele reagisse? Era só um velho que mal dava dois passos.

Eis que foi parar no mesmo local para o qual a pequena menina foi encaminhada. Lembrava a velha Alemanha devastada pela guerra.Numa "escola" improvisada, uma espécie de barracão, lá estavam a menina e mais umas trinta. Todas pareciam ser iguais, o mesmo olhar de resignação e ao mesmo tempo de desprezo. Não havia desespero, havia apatia.

Percebo que há algo parecido com televisor (existiria naquela época? Improvável). Pegava fogo. E todas assistiam como se estivessem assistindo a qualquer acontecimento banal. Pelo amor de Deus, isso vai se alastrar!!! Eis a resposta que obtive: "Não adianta. Vai queimar do mesmo jeito". Bastava jogar um balde de água, abafar com um cobertor. Como não adiantaria?

Olho pela janela abaixo. Não era tão alta. Sugiro que desçamos por ali. Qual foi a resposta obtida? "Não adianta". Deveria eu então, enxergando o que deveria ser feito, descido só? Deveria. E o que eu fiz? Continuei ali, como estátua de pedra, embora "inconformada", da mesma forma que as crianças apáticas a quem critiquei.

Eu vi o perigo, sabia o que aconteceria. E deixei acontecer. É o que nos costuma acontecer dia após dia, desde as situações mais banais até as mais delicadas. O que fazemos para mudá-las?