segunda-feira, 14 de março de 2011

São as águas de março fechando o verão...

Estava sozinha, enquanto o céu parecia desabar. A natureza "chorava" todas as lágrimas a que tinha direito, creio que até muito mais lágrimas do que as que o ser humano realmente causou. Não há meio de comunicação. Eletrodomésticos desligados, possibilidade de curto-circuito, não há pessoas, quase não há luz. Não há o que fazer. A inquietude a toma de assalto, o medo também. Não tinha nada para se distrair, se sentiu oprimida, como se tal manifestação da natureza fosse um ultimato para que se deixasse mergulhar em si própria, longe de estímulos externos. Era um meio de, pela primeira vez, ter como companhia apenas ela mesma. Constatou que era uma companhia chata e entediante. Menos de quinze minutos e já estava a ponto de surtar. Não conseguiu: escolheu como companheiros papel e caneta e se pôs a escrever pensamentos abastratos e meio que sem nexo. Pensou bem e tentou refletir: que tipo de solidão era a que ela dizia que amava tanto? Essa que sentiu foi horrível . Pela primeira vez sentiu falta de pessoas. Ao menos das vozes delas. Diante disso concluiu que o ser humano é mesmo bizarro. É autosuficiente, dono do próprio nariz, por vezes se sente superior ao próximo. Até se sentir acuado pelo medo, oprimido pela solidão, até passar a se colocar no lugar do outro. E aí, depois de reconhecer sua vulnerabilidade e necessidade do outro, ser confortado ou se sentir útil, volta a ser o mesmo de antes. Acho isso bem perceptível quando acontecem desastres naturais. Seja tsunami no Japão, terremoto no Haiti, desabamentos no Rio, whatever. A sequência é sempre a mesma: Primeiro a perplexidade e a incredulidade: "Meu Deus, como pode"? Como assim??? Venhamos e convenhamos: desde que o mundo é mundo, tudo é possível. Pode não ser bom, mas sim, é possível. Deposi vem a curiosidade, o fascínio. O ser humano tem uma curiosidade infinita e, em se tratando de fenômenos naturais então... É isso que te faz ligar a TV no Jornal Nacional, Jornal da Globo, Domingo Espetacular, Fantástico, e até esperar a musiquinha do "Plantão". Torna-se uma coisa emocionante (para quem está de fora, logicamente). É isso que te faz perder tempo e ficar hoooras no youtube procurando vídeos novos e mais nítidos de um melhor ângulo do tsunami. Normal, perfeitamente normal. Somos "humanos", não é? Aí começa isso: nos sentimos "humanos" e acontece uma onda de solidariedade. Doação de roupas para lá, fila do sopão para lá, rifas e leilões beneficentes. Todos demonstram sua solidariedade, se emocionam com relatos de sobreviventes, fazem orações. Por fim, passadas duas ou três semanas: o esquecimento. Todos retomam suas vidas, os jornais encontram outras matérias ( mais um escândalo políticou ou mais uma peripécia de Charlie Sheen). A vida volta ao normal. Aí a tal "tragédia" vira piada de humor negro no twitter, facebook, em blogs, vlogs, enfim... Até, passado algum tempo, haver outra catátrofe. Aí voltam todas as etapas da "onda de solidariedade" (sem trocadilhos infames com tsunamis, please). E assim, os humanos se sentem "humanos" novamente.